“Eu vi dois homens sentados lado a lado assistindo a um homem e uma mulher fazendo sexo”, disse Jules, descrevendo o que testemunhou enquanto passeava com seu cachorro na colina entre sua casa e o café Hog's Back. “Nas proximidades, vi dois homens vestindo apenas cuecas brancas super apertadas”.
Foto: The New York Times
Jules Perkins caminha em parque público em Puttenham, conhecido por ser palco de ‘dogging’ (prática do sexo em público)
Puttenham, a cerca de uma hora de Londres, tem menos de 2.500 habitantes e é famosa por sua antiga igreja, seu amigável pub e sua inclusão em “Domesday” – um livro que fez o levantamento das terras inglesas no século 11 – e em “Admirável Mundo Novo”.
Bosque
Infelizmente, para muitas pessoas aqui, a cidade também é famosa por ser apresentada em listas de bons lugares para o ''dogging" – isto é, fazer sexo em público, muitas vezes com parceiros que você acabou de conhecer online, para que outros possam ver. O bosque local é tão popular para o sexo gay (principalmente durante o dia) e para o sexo heterossexual (à noite) que a polícia o designou como um “ambiente de sexo em público”.
Sexo em público é uma atividade popular na Grã-Bretanha, de acordo com as autoridades, assim como o grande número de sites que promovem a atividade semilegal. Ela é tratada como crime na Grã-Bretanha somente se alguém que a testemunhar se sentir ofendido e estiver disposto a fazer uma reclamação formal. E os policiais tendem a atuar com suavidade em ambientes de sexo em público, em parte devido ao amargo legado do tempo em que a prática sexual entre homossexuais era ilegal e homens pegos fazendo sexo anônimo em lugares como banheiros públicos eram rotineiramente presos e humilhados.
Sites de entusiastas alertam os praticantes sobre os locais mais conhecidos para dogging – mais de 100 apenas em Surrey – e oferecem dicas de etiqueta para aqueles que ainda estão animados demais ou confusos.
“Se aproxime ou entre na brincadeira apenas se for convidado”, informa o site Swinging Heaven, que diz ter mais de 1 milhão de membros registrados. Richard Byrne, professor sênior em gestão do espaço rural na Universidade Harper Adams, em Shropshire, afirmou que a tecnologia moderna tornou o dogging muito mais conveniente do que costumava ser, graças aos sites de busca, grupos no Facebook e pessoas twittando sobre suas experiências. “E, claro, todo mundo tem celular”, disse.
Década de 70
O Swinging Heaven diz que a prática começou na Grã-Bretanha na década de 1970 e que o termo vem do fenômeno de voyeurs que seguiam obstinadamente pessoas fazendo sexo. Outros dizem que os praticantes dizem estar “levando o cão para passear” quando na verdade vão a parques e bosques ao encontro de estranhos nus.
Os britânicos são tolerantes e muito provavelmente não se importariam sobre quem assistiu a quem fazer o quê, desde que todos eles fossem em outro lugar. Por que, os moradores de Puttenham questionam, eles têm de fazer o que fazem a 400 metros da creche da cidade?”.
“Não temos nada contra os gays ou quem quer que esteja lá”, disse Lydia Paterson, que vive na cidade. “É apenas o princípio de ‘Que diabos está acontecendo?’”.
Pistas
Um passeio pelo bosque no outro dia não revelou doggers (estava chovendo), mas muita evidência de sua existência. Muito lixo – preservativos usados, coisas feitas de borracha, páginas arrancadas de revistas pornográficas - se espalha pelo local. As trilhas são cobertas por tapetes pretos que as pessoas convenientemente deixaram ali para a próxima vez.
Os moradores têm pressionado as autoridades a fazer algo, argumentando que o governo deveria simplesmente fechar a parada que oferece acesso ao bosque, na estrada A31. Dessa forma, as pessoas que quisessem fazer sexo não teriam lugar para estacionar.
Foto: The New York Times
Preservativos usados, coisas feitas de borracha, páginas arrancadas de revistas pornográficas são algumas evidências
“As pessoas disseram: 'Vocês estão falando sério?’”, disse Paterson. “Um membro do gabinete chegou a falar: ‘Se você fechar esse local pode haver um aumento nos suicídios porque essas pessoas não têm para onde ir”.
Alguns moradores mais velhos simpatizam com o município. “Honestamente, isso vem acontecendo há tantos anos”, disse Jennifer Debenham, 71 anos, no pub local. "Eu acho que devemos deixá-los em paz".
Histórias
Enquanto isso, moradores trocam histórias: sobre o homem seminu encontrado em um arbusto que teatralmente fingiu estar procurando por nozes e coisas assim. “Um site nos lista como o local número dois para dogging em toda a Europa”, disse Perkins.
O conselho concordou em instituir um “plano de gestão ativo” que pode incluir o corte de alguns arbustos e patrulhas de segurança. E a polícia recentemente colocou uma placa de alerta às pessoas para que não se envolvam em “atividades de caráter inaceitável” na região.
“Houve muito debate sobre o texto desta placa”, disse Paterson. “Não acho que eles queriam dizer: “Não tenha relações sexuais aqui”.
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